A noiva do rei Felipe IV da Espanha encontrava-se em viagem para
Madri, Era uma viagem cansativa e havia constantes paradas, pois cada
cidade queria festejar a viajante e preparar uma recepção brilhante à
futura rainha. Mais uma vez o cortejo parou. Segundo o cerimonial
espanhol, vieram os cumprimentos. Depois entregaram à princesa um
presente de casamento - uma caixinha dourada assentada numa almofada de
veludo.
Curiosa, a noiva abriu a caixa, fitou-a e deixou-a cair como
se estivesse queimando. Parecia querer desmaiar. O seu séquito acorreu e
o marechal da Corte lançou um olhar rápido para o terrível presente. No
estojo dourado estava, nada mais, nada menos, um par de meias de seda.
Era incrível! Apanhou a caixa e devolveu-a.
"Uma rainha não tem pernas!", disse ele friamente.
Assim
era naquele tempo. A observação do marechal da Corte espanhola, que
hoje parece cômica, significava que era o cúmulo do atrevimento pensar
na existência das pernas de uma mulher, e ainda mais quando essa mulher
era uma rainha.
A moda de saias para as mulheres era até o chão. As
saias mal deixavam ver a ponta dos pés. O que era permitido aos homens -
mostrar as pernas - era vedado às mulheres. Era de muito mau gosto
falar das pernas; quanto às meias, nem sequer se devia pensar em tal
coisa.
Os governantes daquela cidade queriam oferecer qualquer coisa
preciosa, um presente digno de rainha. E ao mesmo tempo era um artigo de
que se podiam orgulhar, porque se tratava de uma perfeição de
manufatura da sua cidade. Por isso escolheram as meias de seda, que
representavam naquele tempo um artigo muito raro, um luxo.
Talvez até
a pobre princesa tivesse apreciado muito as meias de seda mas, como
foram oferecidas de forma tão direta e em público, não lhe restava outra
solução senão ficar chocada, ainda que intimamente isso a aborrecesse.
Afinal de contas, oficialmente ela não tinha pernas.
Quem fez as primeiras meias?
Trezentos anos decorreram entre o espanto do presente das meias à
noiva do rei e os grandes anúncios de meias de hoje. Uma longa distância
não só na moda, mas também nos limites do que é permitido.
Igualmente
grande é a distância que vai desde as meias da Idade Média até as de
náilon. Pertence às curiosidades da história da moda ver o longo caminho
que percorreram as meias.
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Quem fez as primeiras meias? Não se sabe. A
tecelagem era uma arte já conhecida no século XV, conforme o provam
achados daquele tempo. Mas depois caiu no esquecimento, e só se impôs
definitivamente no século XVI.
Não foi por acaso que as meias
reapareceram na Espanha. A moda espanhola, que dava o tom da moda
européia entre 1550 e 1650, sobretudo a masculina, tinha necessidade de
criar meias que não enrugassem nas pernas.
fonte folha.uol.com.br
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